
O mar aduba a terra. Isso faz sentido para você? Para a professora da Escola de Química e diretora de pesquisa do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (NIDES) da UFRJ, Ana Lúcia do Amaral Vendramini, faz todo o sentido. Tanto é que ela coordena um projeto que pesquisa a viabilidade da utilização de algas marinhas como biofertilizante na agricultura.
O projeto é um dos 37 selecionados pelo Parque Tecnológico da UFRJ via edital Projetos Especiais 2021, por sintonizar com diversos pré-requisitos exigidos, como a sustentabilidade. Ao todo, o Parque investirá R$ 150 mil na pesquisa. Para a professora, “o apoio do edital está sendo fundamental para realizar os estudos do biofertilizante, ampliar a visibilidade da agricultura no Rio de Janeiro e integrá-la aos negócios do mar”.
Embora popular mundo afora, a aplicação de fertilizante de algas marinhas ainda é incipiente no Brasil. “Apesar do cultivo comercial da macroalga Kappaphycus alvarezii ser autorizado pelo IBAMA desde 2008, ainda não há volume de produção algal suficiente para atender parte do mercado”, pondera Ana Lúcia.
Segundo levantamento da consultoria StoneX, a adubação das lavouras brasileiras de grãos da safra 22/23, assim como das culturas perenes, deve ficar mais cara em relação à temporada 2021/22. Esse contexto, somado à necessidade urgente de medidas ambientalmente sustentáveis, reforçam a importância desse tipo de pesquisa.
Além disso, o Programa Nacional de Bioinsumos do Ministério da Agricultura incentiva a substituição dos fertilizantes químicos tradicionais (poluentes de rios, lagos e mares pela eutrofização) por fertilizantes biológicos, em prol do ambiente e de uma agricultura mais saudável.
Em fase inicial, os estudos sobre a alga na Baía da Ilha Grande – localizada no litoral oeste do estado do Rio de Janeiro – visam a efetividade em termos de capacidade de troca (quilo do produto agrícola/quilo do fertilizante). Envolve as áreas de Química, Biologia, Ambiental, Produção e Elétrica da UFRJ, incluindo análises laboratoriais, aplicações em espécies agrícolas em casas de vegetação e hortas e otimização da cadeia produtiva (menor custo, maior qualidade e segurança).
De acordo com Ana Lúcia, a iniciativa está inserida no contexto da economia e do desenvolvimento sustentáveis. “O foco é promover um ecossistema da inovação em que todos os atores desta nova cadeia produtiva tenham uma relação sinérgica e colaborativa, visando a geração de trabalho e novos negócios para a região, com ganhos sociais, econômicos e ambientais. Assim, fomentamos a produção familiar, o uso de energias renováveis e a economia circular”, ressalta.
Projetos Especiais 2021
Os Projetos Especiais representam uma iniciativa do Parque Tecnológico da UFRJ que visa estimular a inovação e o desenvolvimento em diferentes áreas, de modo a extrapolar o escopo da tecnologia. Foram analisados 191 projetos inscritos no edital e selecionados 37. Ao todo, serão investidos mais de R$ 2 milhões nas propostas, que contarão não só com suporte financeiro, mas também acadêmico.
A proposta do edital Projetos Especiais da UFRJ de 2021 está relacionada diretamente aos esforços para a superação dos desafios globais enfrentados pela humanidade. Por isso, para ser selecionada, a iniciativa deveria dialogar com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especificamente com pelo menos um dos quatro ODS a seguir:
ODS 6 – Água Potável e Saneamento: Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos;
ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico: Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho decente para todos;
ODS 10 – Redução da Desigualdades: Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles;
ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.